quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Setembro

Em algum ponto, a vida se dividiu. Ana pensava que fora em setembro. Tantas flores, tantos sóis para todas elas, as abelhas com mel e palavrões adocicados, transportando cada despedida como se fossem as próprias asas do tempo. As guerras mudavam mapas e limites citadinos, ruínas humanas deitadas na grama da primavera, e Ana pensava:

— Fora em setembro. As coisas estavam tão certas que só podia haver algo de errado.

O caminho da cama era o mesmo, as mesmas camas, "o trabalho tá um saco, preciso fazer algo", talvez um gole a mais para depravar essa barreira de pudor que entorpecia os seus nervos, uma saciedade momentânea, "o filme que via nas tuas mãos", tudo fora em setembro.

— O pior de tudo é esse algo setembrino que não passa, a guerra prolongada nas calçadas, a escada interminável para o céu. E a estrada vazia do tempo. "Tudo é tão pouco", poeta, e eu tentei me circundar de rosas, não imaginava que o teu lábio era essa grande fonte de palavras levadas pelo vento, tu, inscrito nas minhas pernas como "O grande fantasma do faz-me agora", o depois era conseqüência. Foi em setembro que tudo isso começou, não foi?

Ele não sabia.

— Ah, os homens! Nunca sabem dessas coisas. E pra falar a verdade, eu não ligo. Afinal, sempre andamos em círculo, o começo do depois é sempre o declínio do agora, e todos os setembros são iguais. Flores, abelhas, aquelas coisas chatas e melosas. Estou farta de tanta poesia.

Levantaram-se, "duas horas, duas e meia?".

— Não importa. Vou para a tua cama vazia, guardada no meu quarto. Dormirei um sono de primavera, sonharei se tiver tempo. Apague a luz quando sair, feche a porta. A chave, você pode jogar pela janela. Me deixa um cigarro. E só me acorde quando setembro passar.

A rua estava deserta. Setembro se escondia no horizonte, na indecifrável cor da claridade desbravando a noite, no quase murmúrio dos pássaros e das abelhas, na angústia do último trago. Paulo jogou o cigarro fora, olhou para a janela, colocou a chave do lado de dentro, fechou o basculante. Sorriu. Setembro era eterno.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Her photo on my screen

I see her in my bed
Wrapped in her dreams
But I couldn’t see about what they are
I listen her in the hall
Her steps are still songs to me
But I was deaf to their amplitude
I see her in the kitchen
Drinking wine, smiling to me
Her mouth mimetizing sweet words
As if happiness could be spoken
I can swear she is sitting at the table
Holding a glass
I look at her legs
They still give me thirst
I kiss her warmly
My arms are thousand arms
And I tell her about love

I told her
Because I believed I knew what love was
But love is a tempest
And I was really deep on it
To conceive its greatness

Now, I give a like on her photo

Shinning mercilessly on my screen.