sexta-feira, 20 de julho de 2012

Bailarina


Dança dança dançarina
Na doçura da infância
Bela bela bailarina
Que me perco na tua dança.
Dança dança de menina.

Dança dança dançarina.

Na sutileza dos teus sonhos
Crescerão ainda
Outros sonhos mais risonhos
Em tablados indistintos
Bela bela bailarina
Que meus olhos acompanham.

Dança dança dançarina.

Que tua dança são meus olhos
Como livres passarinhos
Que tua dança me acolhe
Como o voo da tardinha
Bela bela bailarina
Com sua dança de menina.

Dança dança dançarina.

Tua dança é um ato
De felicidade
Um encanto
Uma vontade
De eternidade
Bela bela bailarina
Nos braços da tarde.

Dança dança dançarina

Que o mundo se aproxima
Com seus braços de gigante
Que o mundo tem mil planos
Todos destoantes
Que o mundo são anos após anos
Tornando-se distantes
Que o mundo é um mar
De marasmos tediantes.
De tempestades passageiras
E noites sem estrelas.

E também risos e besteiras
Flores azulinas
Felicidades soalheiras
Que a vida ilumina
Para tua dança, dançarina,
Ser alegre como a tinta
De um céu a alvorar-se

E o mundo há de maravilhar-se
Com teu baile de menina.

Bella Bella bailarina.

sábado, 14 de julho de 2012

Haicais



I
A árvore agita
Seus galhos na janela.
Pintura viva.

II
A flor vermelha
Sangra a paisagem.
Terna violência.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Fortaleza longínqua


O passado é um retorno
Na avenida dos pensamentos
Contra o fluxo do movimento
Vai o passado e seus entornos.

Uma paisagem é uma lembrança
Uma lembrança é uma via
Uma via é uma instância
No trânsito das coisas que havia.

E foi nessa rua distante
Equação do tempo-espaço
Que me vi pedestre de ontem
Pelo caminho de cada passo.

Entrando na Fortaleza de outrora
Cidade de vias infantes
Pois as vias que existem agora
Não são as mesmas que existiam antes

Encontrei antigas passagens
Caminhos que compuseram jornadas
Os muros eram paisagens
Que passam na beira da estrada.

E, defronte daquele portão,
Da casa em que vivi
Buzinou a comoção
Dos caminhos que perdi:

A mão envelhecida do meu avô
Apontado o horizonte anoitecendo
Seu carro já parou
E ele ficou no acostamento.

Nunca mais essa estrada
Me levará nos braços
A despedida antecipada
Se resume num abraço.

Outros viandantes
Cruzam meu caminho
Amigos, parentes, irmãos distantes
Cada um em seu destino.

Tento alcançá-los
A rua é uma pressa
Andam apressados
Como eu ando depressa.

Uma rápida conversa
Fotos que se esquecerão
E cairão logo dispersas
No tumulto da multidão.

Estas ruas, todas,
Serão atalhos para minha infância
Sempre conterão as agora tolas
Minhas brincadeiras de criança.

Mas, olhando a rua e sua estreiteza,
Percebi o quanto cresci.
E reparei também que esta grandeza
Não me deixa mais caber ali.

Peguei o ônibus da tarde
Com destino às ruas do presente
Fortaleza agora é uma saudade
Com uma placa me dizendo “Volte sempre!”.